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Sunday, April 22, 2012

CRÔNICA DO SONO



Estava saindo do quarto quando ouvi minha filha conversando com o namorado. Ela dizia que o sono sempre nos vence. Ele é mais forte do que qualquer outra necessidade. Não sei o que a levou a essa conclusão. Nem qual o motivo do assunto. Mas não é que é verdade? Sábias palavras. Pense bem. Tantas vezes você chegou à sua casa cheio de fome e sono, tomou um banho e entrou no quarto pra se vestir. O dia foi um daqueles, cansativo, aborrecido. O que você queria era deletá-lo da sua vida. Bem, mas depois do banho você já está mais relaxado e pensa até em preparar uma comidinha, mas... Olhou pra cama, a cama olhou pra você e... Já era! Foi vencido.
 Às vezes você pega o laptop na intenção de fazer um trabalho superimportante. É preciso muita concentração de sua parte e você tem um prazo a cumprir. É óbvio que o melhor lugar é o quarto. Você fecha a porta, liga o ar condicionado ou o ventilador para abafar o ruído externo, ajeita os travesseiros e deita com o laptop. Nada de crianças chorando, latidos de cães ou gatos miando. Não demora muito e você começa a relaxar, com todo aquele silêncio em volta. Seus olhos começam a se fechar involuntariamente, os bocejos são inevitáveis. É tiro e queda! Literalmente. O laptop cai para um lado, você pro outro e acabou. Um a zero pro sono!                                                       
E quando você planeja uma saída com os amigos e o bendito sono segura você em casa? E nesse caso é bem melhor que seja assim, principalmente se você é o motorista, pois aí, meu caro, pode ser fatal.
Ainda bem que dormir é muito bom. Principalmente naqueles dias chuvosos, um friozinho gostoso, edredon macio e quentinho... Acaba nos agradando perder a batalha contra o sono. Se é que se pode chamar assim. Lutar contra o sono é uma grande bobagem, embora em alguns momentos seja necessário. Assistir aulas ou palestras com sono é uma verdadeira tortura! Chega a ser desesperador! Mas o pior é que quando você se vê livre do evento, o sono se esvai, misteriosamente. E antes sentir sono e poder se render a ele do que buscá-lo ansiosamente e não achá-lo.
Mas o chato mesmo é quando você começa a assistir àquele filme maravilhoso em um canal comercial. A TV já está anunciando faz uma semana, aguçando a sua curiosidade. Na noite da exibição, você desliga o telefone, fecha a porta e avisa à família toda que hoje não está pra ninguém. Seu filho liga um daqueles brinquedos sonoros e você o intima a se afastar:
-Vá agora pro seu quarto! Estou ocupado!
Sem entender muito bem, a criança obedece. Melhor não arriscar.
É aquele filme que você planejou assistir no cinema, mas acabou não indo por uma série de imprevistos que aconteceram na ocasião em que estava em cartaz. Você vê o início, o filme está meio devagar, mas continua ligado. De repente, a história começa a esquentar! Muito suspense e ação. Você consegue chegar à metade do filme no maior interesse, em pleno estado de vigília. Mas a trama é interrompida a todo instante pelos intermináveis anúncios de patrocinadores. A certa altura você começa a se irritar com tantos intervalos, pois o sono já dá sinais de aproximação. Mas você chega bravamente ao fim do penúltimo bloco, a cabeça já meio pesada, os olhos então, nem se fala. Só falta descobrir quem é o psicopata que aterroriza tantas pessoas inocentes causando todo aquele sofrimento e revolta nos habitantes da outrora tão pacata cidade. Eis que começa o último e insuportável intervalo comercial. É propaganda de carro, detergente, margarina e tudo o que menos interessa naquele momento. A única coisa que realmente importa agora é desvendar o mistério. Nada mais. Você está curioso, mas o corpo não resiste e seus olhos se fecham sem querer. Segundos depois (essa é a impressão errada que se tem), você abre os olhos vê os créditos finais, aqueles letreiros com os nomes dos atores e outras informações sobre a obra e ouve a música que encerra o filme. Aí, amigo, é triste! Você fica com raiva de si mesmo e lamenta o tempo perdido, o que não deixa de ser uma perda de tempo também. Não adianta, não há mais o que fazer. Apenas torça para que não demorem a reprisar. Ou então procure pelo filme em alguma locadora. O melhor agora é relaxar e continuar dormindo, de preferência do mesmo ponto onde parou.
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