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Saturday, April 29, 2006

ACONTECEU NO CIEP



Eu tive um aluno de 13 anos, metido a rapazinho que uma vez me desrespeitou fazendo uma piadinha que eu não me lembro mais qual foi e sentiu-se o máximo quando os colegas riram.
Calmamente falei-lhe que no dia seguinte só entraria em minha aula depois que eu conversasse com o seu responsável. Ele respondeu:
-“Problema”! Eu assisto aula só de manhã (eu dividia a turma com uma colega, ela pela manhã e eu à tarde).Minha mãe trabalha e meu pai não mora comigo.
Disse a ele que isso não era problema meu e que desse um jeito. Só que no fundo eu sabia que ninguém iria aparecer e eu não podia deixá-lo sem assistir aula. Mas também não podia ficar desmoralizada perante a turma.
No dia seguinte, fui à sala dele pela manhã e dei-lhe outra opção: Teria que se desculpar diante dos colegas. Ele aceitou. Mas esse tipo de aluno acaba virando um desafio para mim e não fico satisfeita enquanto não o transformo em meu amigo. E é justamente a esses que eu mais me apego.
Fui levando até que a escola organizou um passeio à Bienal do livro e como não tinham muitas vagas, só poderiam ir os alunos escolhidos pelo professor. Hoje em dia não podemos mais fazer isso pois tudo se transformou em "constrangimento".Resolvi escolher esse garoto para tentar uma aproximação. Entreguei-lhe o pedido de autorização para a que a mãe assinasse. Ele ficou entusiasmado, mas quando soube que alguém teria que ir buscá-lo na porta da escola quando voltássemos, disse que não poderia ir, pois a mãe não iria mesmo.
Mandei um bilhete para a mãe dele perguntando se ela autorizaria que ele retornasse sozinho e a resposta foi sim. Fomos ao passeio, ele de braços dados comigo o tempo todo. Na volta, o ônibus passou em frente à casa dele e eu pedi ao motorista que o deixasse descer.
O tempo foi passando e ele cada vez mais meu amigo. No dia de seu aniversário dei-lhe um minigame de presente e ele ficou superfeliz.Cada vez mais eu gostava dele e ele de mim, a ponto dele me chamar de mãe. Passou a estudar mais e desenvolveu muito a leitura e a escrita, pois quando comecei a dar aulas para essa turma, o menino lia tão mal que quando chegava ao final da frase já tinha esquecido o começo. Terminou o ano interpretando textos grandes.
Enfim, tornou-se outra pessoa e até hoje tenho saudades, não só dele mas de toda aquela turma. Não só ensinei, mas também aprendi muito com eles.

CASO VERDADE


Segunda-feira. O dia já começara agitado para mim. Cheguei atrasada; tive que esperar o transporteescolar que levava minha filha ao colégio, ajudar minha sogra a se arrumar para ir ao médico...
Quando cheguei, as turmas já haviam subido. Saí procurando meus alunos e consegui reuní-los na sala de aula.
Os alunos, embora pequenos, agressivos como sempre.Agressividade gratuita. A todo instante algum aluno batia em outro sem motivo ou por motivo banal. Com essa turma não podia haver distração,pois eu ficava preocupada achando que podiam se machucar seriamente.
Nesse dia, dos vinte alunos presentes, oito não levaram lápis e quatro não levaram caderno. Como é difícil trabalhar assim! Os responsáveis não tinham nenhum compromisso com a vida escolar dos filhos. E tudo o que ganhavam da escola, perdiam, quebravam, "esqueciam" em casa... É incrível, mas até o uniforme que é oferecido pela prefeitura eles perdem, rasgam e isso dentro de uma ou duas semanas. Lógico que não eram todos, mas a maioria ia para a escola sem levar absolutamente nada. E era uma escola de horário integral.
Bem, aquela segunda-feira não foi diferente. Como se não bastassem todos os problemas, às dez horas começou o terror. Ouvíamos muitos tiros, de armas pesadas. Minha sala, que ficava virada para o morro, estava no caminho das balas. Tirei a turma da sala, abaixamo-nos no corredor, juntamente com as outras turmas. Gritos, crianças chorando e meia hora abaixada no chão com alunos.
Quando tudo parecia mais calmo, fomos para o refeitório. Almoçamos, subimos. Deixei a turminha na sala e desci para pegar a turma da tarde(nessa época eu dividia as turmas com outras colegas, pois a escola é de horário integral). Esses, já pré-adolescentes, espalhavam-se no pátio, tranqüilamente, como se nada tivesse acontecido. Já cheguei exigindo que subissem. Eles não discutiram, obedeceram na hora.
Com essa turma era bem mais fácil de se trabalhar, apesar de se tratar de uma progressão. Os alunos maiores cuidavam um pouco mais do material, pelo menos todos tinham lápis e cadernos, ainda que em péssimo estado de conservação(não todos, alguns eram extremamente caprichosos). E eu tinha uma relação de amizade muito grande com essa turma, acho que de todas as turmas que tive, com nenhuma outra me identifiquei tanto. Não que eu não gostasse da outra turma, afinal eram criancinhas de seis anos, mas o trabalho com a progressão era muito mais envolvente.
Bem, mas mal havíamos subido, o tiroteio recomeçou. Entramos embaixo das mesas. O barulho das balas vinha de muito perto e não tínhamos a noção exata de onde. Ficamos sabendo que uma bala atingiu uma das pilastras dos CIEP, bem próximo à janela da sala de uma colega. Indignados, nos reunimos e fizemos um documento onde suspendíamos as aulas no dia seguinte, pois ninguém tinha condições psicológicas. Todos assinamos. Estávamos tensos, abalados e temíamos pelas nossas vidas e de nossos alunos. Terça-feira não houve aula.

LIMITES NA INFÂNCIA, FUNDAMENTAIS PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO


Quem me conhece sabe que costumo ser bastante compreensiva, tolerante e observo as circunstâncias em que cada fato ocorre. Mas o que tenho assistido são atitudes de extrema falta de educação e limites por parte das crianças e adolescentes. São poucas as crianças que respeitam regras, sabem a hora de falar e de calar, o tom apropriado para as situações. São egoístas, acham que podem tudo, não pensam nos colegas e não reconhecem autoridade. Muitos põem a culpa na mídia, outros na escola. Mas quer saber de uma coisa? A responsabilidade maior é e sempre será da famíia. A família está se omitindo de suas responsabilidades de educar seus filhos. Hoje a criança é colocada na escola sem a menor noção de comportamento adequado para estar lá. Espera-se que o professor ensine tudo. Não sabem parar para ouvir uma história, não sabem respeitar os colegas, esperar sua vez. Os pais precisam saber que o professor, por mais que queira, não poderá passar para todos os alunos, os valores que cabe à família fazê-lo. Por várias vezes já vi responsáveis por crianças que apresentam problemas de conduta na escola serem chamados para tentarmos solucionar juntos o problema e ouvir como resposta simplesmente"não sei mais o que fazer com este menino". Se um pai ou uma mãe perdeu o controle de sua criança, o que é que a escola poderá fazer? Ou pior: o pai ou (i)responsável dar toda a razão ao filhinho mal-educado. É claro que a escola sempre procura vários caminhos para a solução do problema, apoio de profissionais de outras áreas e muitas vezes costuma conseguir amenizar situação dentro do ambiente escolar. Mas e depois? Nenhuma criança vive somente na escola. Além do mais, o peso maior da formação do caráter da criança é sempre da família. Acho até que a escola está sendo muito paternalista e tentando assumir uma função que não é dela. Acho também que os governantes deveriam chamar os pais à responsabilidade. O ECA é muito importante, serve para punir os abusos e covardias cometidas contra os pequenos, mas está pecando pelo exagero. Tudo virou constrangimento e os pais estão se valendo disso para tentar tirar proveitos. Os professores vivem sob pressão, submetidos a todo o tipo de desrespeito por parte das crianças e jovens, apanhando na face esquerda e tendo que oferecer a direita. Tudo isso faz com que o ensino perca a qualidade cada vez mais. Vai chegar um tempo em que por maior que seja o salário oferecido, ninguém desejará ser professor. Vamos preferir ganhar menos e ter a saúde física, mental e neurológica preservada. É uma pena, porque as crianças não têm culpa e são as mais prejudicadas. Elas não nascem sabendo, precisam ser ensinadas e com urgência, antes que a sociedade se torne insuportável. Crianças crescem e têm que ser moldadas enquanto pequenas...

OS ERROS NA FORMAÇÃO DE BONS LEITORES




É muito comum ouvirmos por aí que o brasileiro não tem o hábito de ler. Há um pouco de controvérsia quanto a esta afirmativa.Quem costuma fazer uso de transportes coletivos como ônibus e metrô, por exemplo,pode dar uma breve olhada ao redor e ver que sempre há vários usuários entretidos com algum tipo de leitura. O maior problema não é a falta do hábito e sim a diversificação dos tipos de leitura.
É verdade que em nosso país há um grande número de analfabetos de fato e ainda os chamados analfabetos funcionais.Não se pode ignorar que os preços dos bons livros não costumam ser acessíveis à maioria das pessoas. Mas ainda há um aspecto mais importante: a forma como a literatura é apresentada ao estudante brasileiro.
Para começar, as leituras costumam ser obrigatórias e escolhidas pelo professor. E em geral essas literaturas são inadequadas à faixa etária dos leitores. O que acontece fatalmente é que o jovem acaba perdendo o interesse pela literatura. E esse caminho pode ou não ter volta.
Lembro-me de que quando eu estava na sexta série, a professora mandou que a turma lesse um livro de José de Alencar para que fizéssemos uma prova sobre a obra. José de Alencar é maravilhoso, mas os alunos estavam na faixa de onze,doze anos de idade e não tinham ainda cultivado o hábito de ler livros. Muitos desses alunos simplesmente passaram a odiar a literatura brasileira. Confesso que na época eu também não podia ouvir falar no assunto, mas felizmente consegui reverter esse processo de maneira tal que hoje sou apaixonada por todo o tipo de leitura.
Para que possamos contribuir na formação de leitores, não só os professores, como também os pais, devem ter muito bom senso e apresentar à criança as obras adequadas à sua idade de forma gradativa.Para isso é que existem as classificações em literaturas infantis, infanto-juvenis... Não se dá feijoada a um bebê recém-nascido.Primeiro ele precisa do leite materno para aos poucos poder degustar alimentos mais fortes e consistentes. Da mesma forma os livros devem ser apresentados aos pequenos. E não só como obrigação de fazer provas ou avaliações, mas pelo simples prazer de ler.É isso. A leitura precisa proporcionar o prazer de quem toma um livro e o abre movido pela curiosidade de seu conteúdo. E temos que dar o exemplo: se quisermos formar leitores, temos que nos mostrar leitores.
O hábito da leitura de qualidade precisa ser cultivado.Uma vez formado esse hábito, a diversificação de temas é só uma conseqüência natural. É como um vício, mas um vício benéfico.Os horizontes são ampliados de maneira fabulosa a quem costuma ler obras de autores variados, ficções ou não.
O brasileiro, se incentivado desde cedo, apreciará muito os livros. Mesmo com o custo alto das obras nas livrarias, o leitor habitual buscará caminhos alternativos, como bibliotecas públicas ou lojas especializadas em livros usados. E agora, contamos com mais um recurso: os e-books.
O Brasil está precisando de leitores que além de sentir prazer ao ler, saibam interpretar de maneira crítica e consciente as mensagens contidas em cada texto que lhes caia às mãos. A sociedade em geral só terá a ganhar.



Márcia Cristina Neves Reis

BRUXA SOLTA (histórias de uma escola)


Tinha dias que as coisas complicavam ainda mais do que o normal. Lembro-me de uma vez em que desci com minha turma para o almoço e resolvi deixa-los brincar um pouco no pátio. Havia outras turmas lá e com poucos minutos de brincadeira, um de meus alunos apareceu com a boca sangrando um pouco devido a uma briga. Não era nada sério, mas resolvi subir com a turma para evitar maiores problemas.
Levei-os para a sala de aula, mas como a escola é enorme, sempre tem alguns fujões que ficam pelo caminho e depois temos que ficar descendo para recolhê-los. Percebi que uns dois ou três alunos não subiram com a turma e desci pronta para dar uma bronca nos espertinhos e levá-los para a sala.
No meio do caminho encontrei minha aluna Suellen chorando e dizendo que um aluno havia morrido na quadra. Imediatamente ordenei que entrasse na sala e desci para ver o que estava acontecendo.
Quando cheguei no final da rampa, tinha uma aluna desmaiada. Eu não estava entendendo nada. Era uma menina de treze anos muito bonita, aluna da terceira série. Levantei-a com a ajuda de seus colegas e ela logo se reanimou. Disse que uma outra menina que ela nem conhecia direito havia lhe dado um soco na testa sem que soubesse o porquê. Vi que estava bem e a mandei me esperar na secretaria.
Segui em frente para ver o tal garoto que Suellen disse que tinha morrido. Ao chegar no pátio, percebi um grande tumulto. Um aluno desmaiado, sobre uma cadeira, a diretora e o inspetor tentando reanima-lo e nada. Uma de minhas colegas pegou seu carro no estacionamento e levou o menino de aproximadamente quinze anos para um hospital junto com a diretora adjunta. O carro com pouca gasolina e a professora quase sem dinheiro. Foram torcendo para que chegassem ao hospital em paz.
Conseguiram chegar, o menino foi atendido e após ficar em observação, foi liberado pelos médicos. Tudo aconteceu porque um dos alunos da Progressão, aquele tipo de turma onde os alunos estão com idade avançada, resolveu agredir o colega na quadra de esportes. Nessa turma tinha muitos adolescentes, inclusive com dezesseis, dezessete anos.
Um dos garotos era tremendamente rebelde com perfil de líder negativo, postura e atitude de bandido. Esse aluno vivia arrumando brigas com todos e fazendo ameaças aos colegas e funcionários da escola. Naquela tarde ele bateu violentamente com a cabeça do colega em um dos ferros que cercavam a quadra. Ao ver que o colega desmaiara, deu-lhe um puxão e segurando-o pelo pescoço atirou-o novamente contra o ferro. Foi uma tarde de muita tensão. Depois de passados os sustos, a diretora não teve outra alternativa senão transferir tanto o aluno que agrediu o colega quanto a menina que agrediu a outra, pois a convivência pacífica ente eles tornou-se inviável.

PROFESSORAS E ...PROFESSORAS!





Ela era uma jovem senhora que vivia como rica. Não que ganhasse bem, mas tinha um marido que bancava seus caprichos. Elas, crianças pobres, moradores de uma comunidade muito carente. Ela ensinava. Eles tentavam aprender. Nem sempre conseguiam muita coisa, eram tantos problemas em casa... E ainda por cima a alimentação era precária. Ela sempre bem vestida, cabelos brilhantes e bem escovados. No ar o cheiro de perfume caro. As crianças mal vestidas, despenteadas, algumas com os cabelos sujos e cheios de piolhos.
A moça não tinha tantas amigas. Por causa de sua postura, sempre se sentindo superior e olhando para as colegas como se com o seu simples olhar, colocasse cada uma delas em seu devido lugar. Mas havia uma outra moça. Essa sim, era sua amiga. Também vivia como rica. Não que tivesse um ótimo salário, mas era filha única e tinha pais que davam a vida e tudo o que se pode comprar por ela. As duas eram parecidas. Fisicamente, nem tanto. A jovem casada era morena e a amiga, loira.
No dia a dia faziam questão de deixar bem clara e evidente a grande distância que as separava daquelas crianças. Ao se aproximar da jovem casada, o menino entregou um desenho.
-É pra você, professora.
-Você, não! Senhora! Obrigada. – Disse olhando distraidamente o desenho que o menino lhe entregara, largando-o em seguida sobre a mesa.
A menina chegou bem perto da jovem loira e tocou-lhe os cabelos.
-Tira essas mãos sujas daí, menina! Acabei de lavar meus cabelos. Não vê que está me despenteando? – disse a jovem. E a menina se afastou sem falar nada.
E o ano foi passando assim. Cada vez mais forte e clara a linha que separava as crianças e seu mundo das jovens professoras.
Alguns percebiam que em outras turmas, professoras e alunos criavam laços de amizade e carinho. Claro que as tias não eram tão bem vestidas, nem usavam perfumes tão caros. Mas eram bem simpáticas. Muitas delas brincavam com seus alunos. Outras estavam sempre prontas a ouvi-los.
Até que o ano letivo acabou. Alguns alunos aprovados, outros reprovados... mas isso não importa. O importante é que as jovens professoras que estavam sempre bem vestidas e olhavam a todos como se estivessem em um degrau abaixo delas, entregaram a cada um de seus alunos, uma sacola. Em cada sacola havia uma bela roupinha e um brinquedo. Um presente para que aqueles alunos nunca se esquecessem de como eram bondosas as suas professoras.
Elas, as jovens professoras, vestidas impecavelmente como sempre, se despediram com votos de boas festas. Colocaram nos rostos seus óculos escuros, entraram em seus carros e saíram da escola com os corações leves como pluma. E com a certeza de terem feito uma boa ação e entrado de sola no chamado espírito natalino.



Márcia Cristina Neves Reis
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