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Saturday, April 29, 2006

CASO VERDADE


Segunda-feira. O dia já começara agitado para mim. Cheguei atrasada; tive que esperar o transporteescolar que levava minha filha ao colégio, ajudar minha sogra a se arrumar para ir ao médico...
Quando cheguei, as turmas já haviam subido. Saí procurando meus alunos e consegui reuní-los na sala de aula.
Os alunos, embora pequenos, agressivos como sempre.Agressividade gratuita. A todo instante algum aluno batia em outro sem motivo ou por motivo banal. Com essa turma não podia haver distração,pois eu ficava preocupada achando que podiam se machucar seriamente.
Nesse dia, dos vinte alunos presentes, oito não levaram lápis e quatro não levaram caderno. Como é difícil trabalhar assim! Os responsáveis não tinham nenhum compromisso com a vida escolar dos filhos. E tudo o que ganhavam da escola, perdiam, quebravam, "esqueciam" em casa... É incrível, mas até o uniforme que é oferecido pela prefeitura eles perdem, rasgam e isso dentro de uma ou duas semanas. Lógico que não eram todos, mas a maioria ia para a escola sem levar absolutamente nada. E era uma escola de horário integral.
Bem, aquela segunda-feira não foi diferente. Como se não bastassem todos os problemas, às dez horas começou o terror. Ouvíamos muitos tiros, de armas pesadas. Minha sala, que ficava virada para o morro, estava no caminho das balas. Tirei a turma da sala, abaixamo-nos no corredor, juntamente com as outras turmas. Gritos, crianças chorando e meia hora abaixada no chão com alunos.
Quando tudo parecia mais calmo, fomos para o refeitório. Almoçamos, subimos. Deixei a turminha na sala e desci para pegar a turma da tarde(nessa época eu dividia as turmas com outras colegas, pois a escola é de horário integral). Esses, já pré-adolescentes, espalhavam-se no pátio, tranqüilamente, como se nada tivesse acontecido. Já cheguei exigindo que subissem. Eles não discutiram, obedeceram na hora.
Com essa turma era bem mais fácil de se trabalhar, apesar de se tratar de uma progressão. Os alunos maiores cuidavam um pouco mais do material, pelo menos todos tinham lápis e cadernos, ainda que em péssimo estado de conservação(não todos, alguns eram extremamente caprichosos). E eu tinha uma relação de amizade muito grande com essa turma, acho que de todas as turmas que tive, com nenhuma outra me identifiquei tanto. Não que eu não gostasse da outra turma, afinal eram criancinhas de seis anos, mas o trabalho com a progressão era muito mais envolvente.
Bem, mas mal havíamos subido, o tiroteio recomeçou. Entramos embaixo das mesas. O barulho das balas vinha de muito perto e não tínhamos a noção exata de onde. Ficamos sabendo que uma bala atingiu uma das pilastras dos CIEP, bem próximo à janela da sala de uma colega. Indignados, nos reunimos e fizemos um documento onde suspendíamos as aulas no dia seguinte, pois ninguém tinha condições psicológicas. Todos assinamos. Estávamos tensos, abalados e temíamos pelas nossas vidas e de nossos alunos. Terça-feira não houve aula.

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