Por um bom tempo em minha vida,fechava os olhos e via uma estrada longa e deserta, tipo “route 66".Mas não bastava querer.Nem sempre ela aparecia.Às vezes a estrada tinha vegetação.Em outras, apenas o chão, seco e duro.Algumas vezes vi nuvens, outras céu claro. Faz tempo que não vejo essa estrada.Acho que nossa trajetória na vida se parece com uma viagem numa estrada assim.Nem sempre ensolarada, às vezes nublada, às vezes seca, outras fértil.Mas sempre nos deixa marcas.Reflexos em nossa jornada.
Saturday, April 29, 2006
PROFESSORAS E ...PROFESSORAS!
Ela era uma jovem senhora que vivia como rica. Não que ganhasse bem, mas tinha um marido que bancava seus caprichos. Elas, crianças pobres, moradores de uma comunidade muito carente. Ela ensinava. Eles tentavam aprender. Nem sempre conseguiam muita coisa, eram tantos problemas em casa... E ainda por cima a alimentação era precária. Ela sempre bem vestida, cabelos brilhantes e bem escovados. No ar o cheiro de perfume caro. As crianças mal vestidas, despenteadas, algumas com os cabelos sujos e cheios de piolhos.
A moça não tinha tantas amigas. Por causa de sua postura, sempre se sentindo superior e olhando para as colegas como se com o seu simples olhar, colocasse cada uma delas em seu devido lugar. Mas havia uma outra moça. Essa sim, era sua amiga. Também vivia como rica. Não que tivesse um ótimo salário, mas era filha única e tinha pais que davam a vida e tudo o que se pode comprar por ela. As duas eram parecidas. Fisicamente, nem tanto. A jovem casada era morena e a amiga, loira.
No dia a dia faziam questão de deixar bem clara e evidente a grande distância que as separava daquelas crianças. Ao se aproximar da jovem casada, o menino entregou um desenho.
-É pra você, professora.
-Você, não! Senhora! Obrigada. – Disse olhando distraidamente o desenho que o menino lhe entregara, largando-o em seguida sobre a mesa.
A menina chegou bem perto da jovem loira e tocou-lhe os cabelos.
-Tira essas mãos sujas daí, menina! Acabei de lavar meus cabelos. Não vê que está me despenteando? – disse a jovem. E a menina se afastou sem falar nada.
E o ano foi passando assim. Cada vez mais forte e clara a linha que separava as crianças e seu mundo das jovens professoras.
Alguns percebiam que em outras turmas, professoras e alunos criavam laços de amizade e carinho. Claro que as tias não eram tão bem vestidas, nem usavam perfumes tão caros. Mas eram bem simpáticas. Muitas delas brincavam com seus alunos. Outras estavam sempre prontas a ouvi-los.
Até que o ano letivo acabou. Alguns alunos aprovados, outros reprovados... mas isso não importa. O importante é que as jovens professoras que estavam sempre bem vestidas e olhavam a todos como se estivessem em um degrau abaixo delas, entregaram a cada um de seus alunos, uma sacola. Em cada sacola havia uma bela roupinha e um brinquedo. Um presente para que aqueles alunos nunca se esquecessem de como eram bondosas as suas professoras.
Elas, as jovens professoras, vestidas impecavelmente como sempre, se despediram com votos de boas festas. Colocaram nos rostos seus óculos escuros, entraram em seus carros e saíram da escola com os corações leves como pluma. E com a certeza de terem feito uma boa ação e entrado de sola no chamado espírito natalino.
Márcia Cristina Neves Reis
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